Espiolhagem à portuguesa


Espiolhagem à portuguesa

Portugal não é, definitivamente, um país de espiões.

Aliás, com a honrosa excepção do período correspondente à II Guerra Mundial, época em que Lisboa foi um verdadeiro ninho de espiões (estrangeiros), dando mesmo origem a um romance, apropriadamente intitulado “Uma Noite em Lisboa”, nunca foi.

Mas é um país de bisbilhoteiros profissionais que se julgam espiões. Ou seja, não é um país de espionagem mas sim um país de espiolhagem.

Pagamos a um espião (ou espia)  – parece que profissional – para estar em Moscovo em busca de potenciais ameaças ou, pelo menos, pessoas que possam ser de interesse para a segurança nacional e dos nossos aliados/amigos. Como é que este operacional investiga? Faz uma busca no Google.

Temos um “chefe” dos espiões que  dedica o seu tempo a investigar pessoas que possam ajudar ou atrapalhar os negócios da empresa para a qual ele pretende trabalhar  quando deixar a sua carreira ao serviço dos serviços – perdoem-me a repetição – secretos (leia-se discretos). Ele investiga, ou manda investigar, tudo e todos, desde os assuntos industriais que podem, de facto, ter interesse para os negócios, até ao restaurante onde um jornalista almoça com o seu irmão autarca. Que perigo para a segurança nacional. Já estou a ver a ameaça que uma salada mista e umas sardinhas assadas representam nas relações de Portugal com um qualquer país que simpatize menos connosco.

Chefe de espiões este que, percebendo tanto de actuar no terreno como eu, é um profissional de tão elevada categoria que toda a gente acede à informação que guarda no seu telemóvel e no seu computador. Parece que até o Ministério Público conseguiu saber o que ele lá armazenou, imagine-se! Francamente, assim é mais fácil que tirar um chupa a uma criança. Guardar informação privilegiada no telemóvel?!

E temos um dirigente desportivo que, enquanto não está a sonhar em construir bancadas no estádio – sendo que aqui as bancadas estão para o dirigente desportivo como as rotundas estão para o autarca – ocupa o tempo a saber quem é a amante do guarda-redes ou o amante da mulher do guarda-redes. Eu também tenho curiosidade em descobrir quem é que foi amante de quem e quem traiu primeiro, mas para isso não é preciso vasculhar a vida privada dos jogadores. Basta ler a imprensa cor-de-rosa…