Beltane, As Maias


Beltane, As Maias

O esplendor da Natureza em Lisboa

Esta celebração, também conhecida como Dia da Cruz, Rudemas e Walpurgisnacht, tem origem num festival Druida de celebração do Fogo, homenageando a união da Deusa ao seu consorte, o Deus. Deste modo, é também associado à fertilidade, uma expressão que cujo significado não se restringe à reprodução animal, mas também ao desejo de maior produção agrícola. Trata-se de um dos poucos festivais pagãos que sobreviveu, em grande parte, na sua forma original, até aos dias de hoje.

O Festival de Beltane celebra igualmente o regresso do Sol, marcando a “morte” do Inverno e o “nascimento” da Primavera, dando início à fase de plantio. De acordo com a tradição, o Beltane inicia-se com o acender das fogueiras ao nascer da Lua da véspera do primeiro dia de Maio. Estas fogueiras servirão para iluminar o caminho para o Verão

Uma das tradições mais conhecidas deste festival é a dança em torno do Mastro, feita no sentido da direita em relação à luz. Ao longo desta dança são entrelaçadas no mastro diversas fitas coloridas que simbolizam a união do masculino com o feminino. Às primeiras horas da manhã o orvalho é recolhido e aplicado na feitura de poções para obter boa sorte.

A palavra Beltane tem origem no nome do Deus céltico Bel (o senhor da vida, da morte e do mundo dos espíritos) e em Tane, uma expressão céltica que significa fogo.

Tradições em Portugal

Segundo Leite de Vasconcelos, era costume em Portugal celebrarem-se as Maias, a denominação mais antiga para esta festa, de cariz popular que chegou a ser proibida por uma postura da Câmara de Lisboa, datada de 1385.

A tradição das Maias tinha então a função de celebrar a Primavera e o novo ano agrícola, servindo igualmente para manter afastados da casa os maus-olhados e as bruxas.

A Norte do País sobrevivem ainda algumas tradições ligadas a este festival, como é o caso da colocação de ramalhetes de giestas amarelas (também conhecidas por maias por florirem em Maio) nas portas ou janelas das habitações no Minho, Douro e Beira Alta. No caso do Alto Minho, são também enfeitados dos carros de bois, bem como diversos outros veículos

A explicação popular para este ritual assenta na tradição cristã e diz que quando a Virgem partiu para o Egipto, deixou pelo caminho ramos de giesta para não se perder no regresso. Noutra versão, diz-se que aquando do nascimento de Jesus Cristo, os judeus procuraram-no para o matarem e marcaram uma das casas com um ramo de giesta, certos que era nela que ele se encontrava. Rapidamente todas as habitações apareceram enfeitadas com a flor, o que permitiu manter a criança a salvo.

Em certas localidades, os rapazes que estão para casar colocam por baixo das portas das casas das moças “sérias” uma “maia de rosas”.

Depois da expansão do cristianismo, este ritual passou a estar associado à Festa da Santa Cruz e ao Corpo de Deus.

Em Trás-os-Montes, tal como noutras zonas interiores e ao contrário do que sucede na faixa Atlântica, existe uma prática alimentar associada à festa, na qual as castanhas são rainha da celebração. São diversas as pessoas que as guardam para esta ocasião. Até porque, diz o povo, quem não o fez, ao cruzar-se com um burro, corre o risco de ser mordido pelo bicho, tal como vaticina o adágio: quem não come castanhas no 1º de Maio, monta-o o burro. No imaginário popular, Maio é o mês dos burros.

Já o hábito de comer as castanhas secas em Maio, estará relacionado com o facto de, no primeiro dia do mês, o chefe de família ir à fonte e esconjurar ou afastar com favas pretas os espíritos (o Maio) da sua família. Este facto deu também origem à expressão “Vai à feira e traz-me as maias (as castanhas piladas)”.

No Sul do País há também o costume de a primeira refeição do dia ser composta pelo  chamado Queijinho de Maio, um bolo feito à base de figos secos, amêndoas, açúcar, erva-doce e canela, acompanhado pela aguardente de medronho. Em todas as casas se faz, pelo menos, um bolo para ser, obrigatoriamente, comido neste dia. No primeiro dia de Maio o povo pede à Virgem proteção para as sementeiras e enramalha com giestas e outras plantas, de bem-fazer, os currais do gado impedindo, assim, que o quebranto ou mau-olhado entrem.

De acordo com alguns investigadores, a origem da tradição das Maias perde-se no tempo e pode ter várias explicações. Segundo alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno da qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por vezes, podia ser também uma menina de vestido branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares.